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Comunicadores indígenas discutem o poder da comunicação indígena e seus desafios em roda de prosa

13//07/2023 | Por Narelly Batista | Foto:

“Desde o início da pandemia temos visto o fortalecimento de um movimento de demarcação das telas!”, salientou Priscila Tapajowara em roda de conversa sobre o poder da comunicação indígena na XV Aldeia Multiétnica. 

A cineasta e o comunicador e influencer Cristian Wariu foram os convidados para discutir o tema, que dentre outras coisas, apontou os desafios da tarefa e da luta indígena na comunicação. Eles apresentaram suas trajetórias e contaram um pouco sobre as expectativas dos seus familiares e povos diante do trabalho que constróem. 

Para Priscila, a motivação em estudar comunicação veio da necessidade de contar a luta dos povos originários e utilizar esta ferramenta como meio de luta e combate às violações contra seu povo e outras etnias indígenas. Para ela, foi uma forma de denunciar a construção das barragens e a expansão do agronegócio na sua região. Desde então, tem focado seu trabalho na inclusão digital do público indígena, mas também desenvolve atividades com a população quilombola e ribeirinha. 

Segundo ela, "nessa ocupação das redes “a gente é uma ferramenta usada pelos nossos ancestrais para ser porta voz”. “Quantos de vocês já foram assistir filmes com a temática indígena? Vocês já viram filmes com indígenas na produção?" perguntou ela. Com a ausência de quem já tivesse tido a experiência, Priscila arrematou sua participação ressaltando que muitas vezes a união de não indígenas na luta política ou pelo meio ambiente ainda envolve interesses pessoais por parte dos brancos, mas não há uma finalidade para o bem viver indígena. Ela finalizou dizendo que a representatividade indígena nos meios de comunicação efetiva a construção de suas próprias narrativas. “Eu uso a comunicação para contar a história de onde eu venho”.  “Quer apoiar a luta indígena? Nos apoie a ocupar os espaços e não a tomar nosso lugar”.

Cristian Wariu é influencer digital. Começou suas produções a partir de um edital para produção de vídeos sobre a cultura e educação indígena. Sua conta no youtube hoje tem mais de 600 mil visualizações. De lá para cá, entendeu que precisava se aprofundar nos estudos em comunicação para potencializar suas ações. Hoje faz Comunicação organizacional na Universidade de Brasília (UnB). Seus vídeos fazem parte do material didático do PAS-Programa de Avaliação Seriada e tem auxiliado milhares de jovens a se aprofundarem no Brasil real por meio destes conteúdos.

Para ele, o que se costuma ver no dia a dia é uma visão preconceituosa e ultrapassada sobre os povos originários. Cristian observou a baixa representatividade de indígenas nos meios de comunicação digital. Para ele, os estudos são uma possibilidade de mudança e luta contra o apagamento da memória indígena. “A gente já nasce um comunicador, porque a gente já nasce tendo que explicar o que é ser indígena no Brasil num mundo contemporâneo”.

Embora seu alcance tenha cada vez mais destaque em espaços que não imaginava, não se dislumbra. Na oportuniade, contou sobre sua participação no programa da Fátima Bernardes. O número de seguidores depois da aparição para ele não foi relevante, mas o retorno das crianças de sua aldeia o emocionou. Entendeu assim, que aquilo significava que um jovem indígena estava demarcando um espaço importante. Não para ele, mas para outros. Ele afirmou ainda que sua passagem é território “estou aqui trazendo um pouco do meu território pra você". 

 

 

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Um projeto da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge.

Aldeia Multiétnica